Celebração da reinserção: Acolhimentos institucionais comemoram avanços sociais
Se você acha que a dependência química é o único caminho que leva uma pessoa a situação de rua e, que pedir esmola é mais fácil do que trabalhar, saiba que foi pensando em você que W.J. N., de 62 anos, aceitou conceder essa entrevista. Ele que viveu nessa condição até a última sexta-feira (1°). Iniciou a conversa dizendo: “Não bebo. Nunca usei nem uso drogas”.
Feito o registro, acompanhado de sua técnica de referência, a assistente social Delma Maria Perini do Espírito Santo, o acolhido concordou em falar mais sobre sua trajetória de vida e, como chegou a morar por três meses nas ruas, dormir nas areias das praias da capital até ser acolhido pelo serviço de acolhimento institucional da Secretaria de Assistência Social de Vitória (Semas).
“Hoje, chegou o fim de uma era e, outra, ainda melhor recomeça hoje. Deixo a Casa Republica – espaço de acolhimento institucional vinculado à Secretaria de Assistência Social (Semas) – para morar na minha casa”, disse ele, com orgulho.
W. era empresário – dono de famosa loja com matriz em Vitória e filial em Cariacica-, por conta de dívidas vendeu tudo e foi para os Estados Unidos, onde morou 20 anos e chegou a fazer fortuna. Mas, abandonado pela esposa, com saudades do país, quis retornar e aproveitar a vida. Foi aproveitando a vida que se descontrolou financeiramente e zerou o cofre.
“Sofri muito em situação de rua. Sem lugar para dormir. A praia é o lugar menos perigoso, por isso à noite ia para lá”, disse W. Ele contou que, mesmo tendo irmãos na cidade, nenhum deles quis hospedá-lo e os vínculos foram totalmente rompidos.
Foi quando conseguiu acolhimento na Hospedagem Noturna, localizada na Cidade Alta, depois passou pelo Centro de Referência para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop), em Mário Cypreste, Abrigo 1 e Abrigo Jabour até conseguir uma vaga na Casa República – espaço destinado a pessoas adultas do sexo masculino, com vivência de rua em fase de reinserção social, que estejam em processo de restabelecimento dos vínculos sociais e construção de autonomia.
Nesse um ano e três meses em que esteve na Casa República, recebeu apoio da equipe que ajudou no processo de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e, consequentemente, na sua autonomia financeira. “Naquela época eu não soube usar o dinheiro que tinha. Agora, estou retomando pouco a pouco”, admitiu o ex-empresário.
No dia da mudança, W. disse que seu maior sonho hoje é uma família. Ao ser questionado sobre o que mais marcou nesse tempo em situação de rua, ele fez questão de ressaltar que: “Estou nessa situação, passei por tudo, por estupidez. Ninguém foi culpado. Não dei valor ao dinheiro, quando abri os olhos estava sem nada. Mas, sofri mais pelo abandono e desprezo da família. Eu ficava sozinho. Foram três meses dormindo e acordando nas ruas”.
Ao chegar em casa, W. agradeceu pelo trabalho realizado pela assistente social Delma e da psicóloga Úrsula Souza Campanaro durante o tempo em que esteve na República. “Foi muito bom o tempo que passei lá. Me ajudaram muito. Me tratavam com educação, respeito. Mas, chegou a minha vez de ir. Estou estabilizado”, afirmou ele, mostrando a moto zero quilômetro que adquiriu com as economias.
Para a assistente social Delma vê-lo partir representa uma vitória para toda a equipe, de todos os espaços da Assistência Social por onde ele passou. ” Ele é mais uma demonstração da importância da política de Assistência Social”, disse ela.
Ao saber do resultado do trabalho das equipes, a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, emocionada disse: “Diariamente, estamos ratificando que a Assistência Social é para quem dela precisar. O nosso público alvo é toda e qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade, independente de como chegou nessa situação”, enfatizou Cintya.
A secretária acrescentou que “acreditamos nas pessoas e muitas vezes fazemos com que elas voltem a acreditar em si mesmas e possam traçar novas histórias em sua vida”.
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