Centro de Convivência: Um lugar de descobertas de direitos e conquistas

Centro de Convivência: Um lugar de descobertas de direitos e conquistas
Vera Lúcia e Margarida, em um dos lugares que acham mais bonito do Centro de Convivência

Quem pensa que as pessoas idosas que frequentam uma das 21 unidades de atendimento da Assistência Social da capital, e pensa que por lá eles só aprendem trabalhos manuais ou participam de aulas de dança, está muito enganado.

É que o conceito desses espaços já foi atualizado, e com sucesso, há algum tempo. Prova disso é o que afirmam Vera Lúcia Rangel da Silva, de 74 anos; Margarida Antônia Lopes Silva, 70; e Luciene Meireles Dutra, 70. Vera Lucia conta que sempre foi ativa, mas com a pandemia da Covid-19 e a perda da mãe e de dos irmãos, frequentar o Centro de Convivência (CC) do Centro significou o resgate da sua autoestima e o empurrão para colocar a vida nos trilhos.

Ela disse que existe uma Vera Lúcia antes e outra depois que começou a frequentar o espaço. Antes de participar das oficinas e atividades ofertadas por lá, Vera Lúcia se achava uma “pessoa sem graça”. Agora, uma idosa falante, com mais autonomia. Ela lembrou que, no início, não se expressava e toda comunicação era feita pela cuidadora da época.

“Vim para o Centro de Convivência buscando uma coisa e encontrei muito mais. Fui acolhida com muito carinho, respeito. Acho que ganhei uma nova vida, novo fôlego e disposição para viver. Encontrei a autonomia que precisava. Fiz amizades de verdade, os nossos laços são bem fortes”, declarou a idosa.

Sobre autonomia, Vera Lúcia relatou que sempre gostou de ir à igreja, mas ficava na dependência de uma pessoa ou outra. Agora, “vou à igreja sábado, domingo de manhã, à tarde. Deu vontade eu vou. Não tenho mais medo de viver”, falou ela, sorridente.

Luciene Meireles Dutra

Amizade

Enquanto a conversa fluía, Vera Lúcia destacou: “Consegui até uma cuidadora aqui dentro. Mas, nossa relação de amizade se tornou tão forte que vai além da relação funcionária e patroa. A gente conversa sobre tudo, coisas que nem os nossos filhos sabem. Nossa amizade se consolidou para além desses portões”. O que foi imediatamente sinalizado pela amiga e cuidadora Margarida Antônia.

Margarida admitiu que, as primeiras vezes em que visitou o Centro de Convivência, acreditava que as atividades se limitariam a baile da terceira idade, o que a impedia de frequentar com regularidade. Mas, a partir do primeiro encontro com Vera Lúcia, a história mudou, passando a ser assídua.

“Aqui aprendi muita coisa”, declarou Margarida. Mesmo sem ser questionada, ela explicou: “os temas das discussões são muito importantes. Eu aprendi a conviver com a minha própria idade, a gostar de pessoas da minha idade. Antes, eu achava que era um monte de gente velha reclamando de doença. Mas, aqui, não é nada do que eu pensava. Aqui, encontrei apoio e fiz amizades que estou levando para a vida fora daqui”, declarou ela.

A percepção de Margarida mudou tanto que ela e a Vera Lúcia já estão fazendo planos de viagem. “Eu quero viajar de trem”, falou Vera. Margarida já disse que seu sonho é viajar bastante pelo mundo e fotografar. “No verão, vamos para Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. Vamos para a casa da minha sobrinha, porque amo aquele lugar”, revelou Vera Lúcia.

Convivência

Enquanto Vera e Margarida faziam planos para o verão, Luciene Meireles Dutra, de 70 anos, que é apontada como uma das mais animadas, incentivadoras e estilosa do grupo, já estava apresentando sugestões para fazerem no próximo final de semana.

“O Centro de Convivência oferece o que a gente precisa: a convivência, estar em contato com outras pessoas, criar ciclos de amizades com pessoas da mesma geração. Muita gente acha que vai chegar aqui e encontrar um monte de gente reclamando da vida. Pode até chegar assim, mas sai de outro jeito. Saímos daqui leve”, garantiu Luciene Meireles Dutra, de 70 anos.

Vera Lúcia recebendo o carinho do educador social

Luciene relatou que participar das oficinas de artesanato, expressão corporal, dança, teatro ofertadas naquele espaço são fundamentais, mas nada se compara às conversas e debates que acontecem. “A gente vem para cá ser feliz. Tem as oficinas que são ótimas, mas aprendi que eu tenho direitos. Inclusive de ter minha própria vida”, comentou Luciene.

Ela contou que viveu muitos anos um casamento muito feliz, mas nunca havia viajado. Após viver o sofrimento do luto, encontro no espaço a energia para viver. “Aqui, encontrei a liberdade. Nunca tinha viajado. Aqui, encontrei pessoas que querem fazer as mesmas coisas que eu. O Centro de Convicência incentiva isso. Em doze meses, viajei doze vezes. E agora divido meu tempo para mim também. Um final de semana visito um filho, no outro a filha e fico dois finais de semana só para mim, para fazer o que quero com minhas amigas”, falou Luciene, abrindo um belo sorriso.

A coordenadora do espaço, Jizelly Sacht, comentou que relatos como esse demonstram que o espaço está cumprindo com o seu papel. “Todas as nossas ações são estruturadas com foco na promoção do envelhecimento formado pelo resgate de vínculos, no desenvolvimento da autonomia e no fortalecimento dos laços familiares e comunitários e na redução das vulnerabilidades”, explicou a coordenadora.

A gerente de Serviços de Conveniência e Fortalecimento de Vínculos Cristina Silva destacou que o principal objetivo é desenvolver o sentimento de pertencimento e de identidade. “Além de incentivar a socialização e a convivência comunitária e a promoção de potencialidades, a partir das atividades realizadas em grupo”, reforçou ela.

Para a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, o planejamento das atividades nos Centros de Convivência tem um papel fundamental, a de proteger todos os nossos idosos de vulnerabilidades como a violência, a negligência.
“Desenvolver os idosos em suas histórias é fortalece-los no direito mais pleno, direito a viver e serem o que são”, ressaltou.