Entrevista com Coronel Carlos Wagner: “podemos fazer a diferença e transformar a realidade.”
Com trinta anos de carreira renomada nos Bombeiros, o Coronel Carlos Wagner Borges, 49 anos, divide suas experiências profissionais e opiniões políticas. Decidiu seguir profissão inspirado pelo pai. Tem orgulho de sua geração, que trouxe ao Corpo de Bombeiros capixaba renome e qualidade internacionais. Seu currículo leva diversas ações para enfrentar chuvas e enchentes, que encarou no Espírito Santo, no sul da Bahia e em terras mineiras.
Atuou com sucesso e destaque para conter os desastres das chuvas em São Mateus, terra pela qual é apaixonado. Lembra com emoção do desabamento de Vila Velha em 2022: “um dos eventos mais dramáticos da minha vida”.
Não poupa elogios ao governo Casagrande: “o melhor governo que o Espírito Santo teve nos últimos anos”. Agora, quer entrar na política porque deseja servir a sociedade com seus talentos como militar, gestor e bombeiro.
Como o senhor entrou para os Bombeiros?
Decidi me tornar bombeiro para seguir os passos do meu pai. Depois de dez anos de serviço, ele teve sua carreira interrompida de forma brusca. Durante o serviço, sofreu um acidente, uma lesão na perna. Ficou dois anos sem andar. Depois disso, foi reformado. Resolvi então seguir o ofício dele. Comecei minha carreira em São Mateus. Escolhi aquele município porque sempre ia a Guriri durante a infância, nas férias escolares de verão. Iniciei minha carreira em 1986.
Comandei a Polícia Florestal, quando ainda era unificada com os Bombeiros. Em 1997, quando separaram, decidi ficar nos Bombeiros. Morei em São Mateus até 2001, onde tive meu primeiro filho. Depois disso, morei em diversas cidades do estado: Vitória, Vila Velha, Cachoeiro de Itapemirim, Serra.
Durante sua carreira, quais foram os episódios mais dramáticos que enfrentou?
Orientei equipes para Brumadinho, Mariana e no sul da Bahia, onde enfrentamos enchentes. Estive também nas enchentes de Iconha e de Alfredo Chaves.
Participei também nas chuvas de 2013, que deixou cerca de 55 mil pessoas desabrigadas, com mais de 55 municípios capixabas em estado de calamidade pública. Estive igualmente em São Mateus em dezembro do ano passado, para ajudar a orientar as ações durante os dias de maior intensidade das chuvas.
De todos os episódios, o mais dramático para mim foi o desabamento do prédio em Vila Velha, em 2022.
Que lições o senhor tirou desse episódio? Como é lidar com o sucesso e com a perda?
Pergunta difícil de responder. Nós, bombeiros, somos treinados para proteger e salvar vidas. Quando não conseguimos cumprir a missão, é como perder um pedaço da gente. É como lidar com uma história que não tem fim. Na situação de Vila Velha, por exemplo, havia vítimas com vida sob os escombros. Conversávamos com elas. Resgatamos uma. Infelizmente, duas foram perdidas. Lidar com isso é difícil. A gente se penaliza muito.
A perda conta muito mais do que a vitória. Quando salvamos uma vida, não paramos para comemorar ou pensar nisso. Simplesmente corremos para salvar outra. Mas a perda, a gente fica com ela na memória. Fica a sensação frustrante de que, por mais que tenhamos nos esmerado, nos dedicado, nos treinado, mesmo assim não foi suficiente. A gente carrega esse peso para o resto da vida.
O senhor assumiu o comando da Defesa Civil de São Mateus. Como ocorreu o convite? E por que o senhor aceitou?
Na ocasião, eu havia ido a São Mateus para participar de uma reunião para enfrentar as enchentes. Deparei-me com o caos da cidade, com a dificuldade que o município enfrentava para gerir o desastre. Eu queria auxiliar a organizar uma resposta eficaz ao problema.
Cheguei lá trazendo somente a roupa que vestia. Eu me sentia moralmente obrigado a ajudar a cidade que tanto me ajudou e me ensinou. Considerava um dever contribuir ali com meu conhecimento de trinta anos de profissão. Sabendo que eu estava lá, e sabendo de minha angústia, o Comando Geral autorizou minha permanência na cidade. O governador Renato Casagrande também pediu para que eu permanecesse por lá apoiando o município.
O prefeito passou o comitê de crise ao meu comando. Geri todas as secretarias. Com isso, graças a Deus, tivemos a melhor resposta no enfrentamento das chuvas de todo o Espírito Santo. A partir dessa ação, traçamos outras, com resultado positivos. Por sinal, acho importante destacar o apoio dado pelo governador Renato Casagrande. Foi o governador que mais investiu no Espírito Santo em prevenção e enfrentamento de desastres.
Ele liberou recursos para reconstruir a Ladeira do Besouro, que foi muito afetada. Ele liberou profissionais da Seturb para começarem as obras da macrodrenagem de Guriri, para que o lugar nunca mais alague.
Ademais, criamos com o prefeito a Secretaria Municipal de Defesa Social, Gestão de Risco e Gerenciamento de Desastre, a primeira do Espírito Santo. Criamos um corpo técnico de engenheiros, com gente até mesmo da Samarco de Belo Horizonte, para ajudarem a construir projetos estruturantes. É um conjunto de ações e fatores para tornar São Mateus um exemplo de proteção da vida.
Como está a situação atual de São Mateus? Quais são os maiores riscos e desafios?
Um dos maiores desafios é o de concluir as obras em tempo, tanto a da ladeira do Besouro quanto a da macrodrenagem Guriri. As chuvas devem voltar à cidade no final do ano. As obras precisam ficar prontas antes disso. Outro desafio é o de prosseguir na estruturação da Guarda Municipal.
A Guarda estava bastante desestruturada. Há uma Guarda, mas não há lei própria que a crie. Além disso, a Guarda é desarmada. Queremos regulamentar a lei que define a Guarda e preparar uma dotação orçamentária para ela, valendo em 2024. Queremos também qualificá-la junto à Polícia Civil do Espírito Santo, para que se torne uma guarda armada. Existe também o desafio de municipalizar o trânsito. Os agentes locais não podem autuar veículos.
Com isso, o trânsito do município ainda é caótico, com muito desrespeito às leis e à vida humana. Em 1 de agosto, no entanto, graças a um convênio com o Detran, os agentes da cidade poderão autuar os motoristas infratores.
O senhor possui experiência eleitoral. Quando surgiu esse interesse do senhor pela política?
Na verdade, detestava até mesmo conversar sobre política. Desde criança, ouvi que político é ladrão, é corrupto. Costumam dar aos políticos tudo quanto é adjetivo pejorativo. E eu vim de uma instituição com muita credibilidade social.
Mas percebi que a corrupção no nosso país é imensa. É preciso fazer algo sobre isso. Entendo que, se sou bombeiro, pessoa de bem, acostumado a salvar vidas, a trabalhar com seriedade, então posso contribuir também na política. Se não fizer isso, pessoas ruins continuarão entrando na política, piorando a situação. Quero ser eleito para construir uma cidade melhor dentro da concepção dos bombeiros: cuidando de vidas e protegendo pessoas. Se os bons se calarem, os maus prevalecem.
No entender do senhor, como a profissão de bombeiro pode auxiliar o ofício político?
De muitas formas. Nós, bombeiros, temos preparo para comandar e fornecer uma boa gestão. Minha geração é formada por bombeiros recém-emancipados da Polícia Militar. Na época, o Corpo de Bombeiros não tinha recursos. Trabalhávamos com um fusca que tinha assoalho de madeira! E as bombas d’água dos carros de combate muitas vezes quebravam. Minha geração mudou essa realidade.
Tornamos o Corpo de Bombeiros capixaba um dos melhores do Brasil. Somos referência em atendimento pré-hospitalar, em combate a incêndios florestais. Alguns de nossos bombeiros apoiam ações até mesmo no Canadá. Temos bombeiros que são referência em incêndio urbano.
Temos os melhores caminhões de combate a incêndio no Brasil, com tecnologia inglesa. Transformamos um Corpo de Bombeiro miserável em um Corpo de Bombeiros de alta qualidade, capaz de auxiliar no Brasil e até mesmo no exterior, como no Haiti e no Canadá.
Tenho orgulho de fazer parte dessa geração. Ela possui condições de assumir qualquer cargo público. Podemos fazer diferença e transformar a realidade, pegar uma realidade ruim e torná-la melhor, seja num local, numa cidade ou num estado.
O senhor é um militar. O que o senhor acha da interação entre os militares e a sociedade civil?
Essa interação é positiva. Só não pode haver radicalismos. Os extremos trazem prejuízos ao desenvolvimento. Temos de buscar uma política equilibrada, que pense no ser humano, não que pense no partido político, no grupo A ou B, mas que pense na sociedade como um todo. Vencer uma eleição pode exigir a formação de um grupo, mas o trabalho de governar tem de ser para todos.
Como o senhor avalia o atual governo do Estado?
O governo de Renato Casagrande é melhor governo que o Espírito Santo já teve. Ele busca o equilíbrio, centrado em realizar a necessidade da sociedade. Investe recursos não atrás de votos, mas do bem-estar social. Por exemplo, veja o investimento dessa governo na estrada que liga São José, um lugar com 5 mil pessoas. É um investimento gigantesco para levar asfalto a um lugar de poucas pessoas.
Se for por voto, não vale a pena. No entanto, para satisfazer um anseio social, vale muito. O governo Casagrande investe em macrodrenagem, em obras para proteger pessoas que sofrem com deslizamento de terra e problemas parecidos. São obras que ninguém vê, mas que estão ali, fazendo muita diferença. O governo Casagrande está sendo o melhor governo do Espírito Santo nos últimos anos.
O senhor possui planos de se candidatar a prefeito de São Mateus?
Não, não tenho. Querem criar um clamor para que eu seja candidato. Mas eu já disse ao prefeito, ao governador e à minha família que não vou pensar nisso agora. Estou focado na missão que recebi de preparar a cidade para que não seja castigada pelas chuvas, como foi da vez passada. Só vou pensar em eleições após janeiro do ano que vem, depois de cumprida minha missão.
Se se candidatar, quais seriam as suas propostas para São Mateus?
Na verdade, minhas propostas seriam para todos os municípios. Estou preparado para qualquer cidade. Não sou cidadão de um município apenas, mas de qualquer um, de todos. E o que todos os municípios precisam é de cuidar das pessoas. Infelizmente, a sociedade não é cuidada, mas usada, manipulada. Isso acontece principalmente sobre aqueles que mais precisam de cuidados. É importante encontrar soluções que beneficiem a todos.
Por exemplo, temos de ajudar o empresário e comerciante a ganhar dinheiro: quanto mais eles ganham, mais o município arrecada para cuidar de quem mais precisa de ajuda. São ações para cuidar de todos. Temos de buscar equilíbrio: não só um grupo, mas todos têm de viver bem. Precisamos de ações sociais econômicas para que municípios tenham recursos suficientes para melhorar a qualidade de vida da sociedade. ◼
Escritor e publicitário. Bacharel em Jornalismo e Economia. Mestre em Relações Internacionais. Bacharelando em Filosofia.