Governador, prefeito e ministro da Infraestrutura dividem o mesmo palanque em Linhares
A expectativa era de que rolasse um climão. Mas todo mundo segurou a onda na inauguração do Aeroporto de Linhares. Governador, prefeito e o ministro da Infraestrutura dividiram o mesmo palanque na manhã de ontem, um dia depois das alfinetadas, ataques e bate-boca na internet por conta da paternidade da obra.
Os discursos foram protocolares, de valorização da obra de grande porte na região, de agradecimentos pelo empenho de todos. O clima ameno da cerimônia, porém, não significa que a paz está selada. Pelo contrário, fora do evento, o ambiente continua sendo de guerra.
Na noite de quinta-feira (09), a Prefeitura de Linhares publicou em seu perfil pessoal que o governo do Estado perdeu um recurso federal de R$ 25 milhões para a obra de Aeroporto de Linhares. Ontem, após a inauguração do aeroporto, Guerino endossou a nota da prefeitura e foi além: “A nossa nota, ou melhor, a nota da Prefeitura de Linhares foi tímida, foi muito educada. Porque o que o governo fez foi um absurdo”.
Guerino colocou na sua conta a viabilização do Aeroporto de Linhares, afirmando que correu atrás do governo federal, da bancada em Brasília e dos dois governadores que passaram nos últimos anos pelo Palácio Anchieta (Casagrande e Paulo Hartung). “Foi trabalho nosso, da prefeitura, minha luta”, afirmou Guerino, contando toda a saga do aeroporto linharense até chegar aos R$ 25 milhões.
“Foi assinado um acordo entre a Secretaria Nacional de Aviação Civil e o governo do Estado estabelecendo que quando a obra do aeroporto chegasse em determinado ponto, o governo federal iria repassar R$ 25 milhões para construir um terminal e a contrapartida do Estado seria de R$ 5 milhões. O município poderia ter executado a obra, mas o Estado pediu para executar e demos autorização. Da primeira vez em 2018, com a pista, tendo o terminal ficado para depois. E eu sempre cobrando o governo. Quando chega em novembro de 2021, a Anac comunica à prefeitura, que é a dona do aeroporto, que estava cancelando o repasse dos R$ 25 milhões porque o Estado não deu atenção às demandas a serem alteradas no projeto. É um absurdo, depois de tantas tratativas, perdermos R$ 25 milhões”, disse Guerino.
A assessoria de Guerino apresentou um ofício que mostra o cancelamento do Termo de Compromisso 16/2019, sobre o repasse do recurso. O ex-prefeito afirma que segurou esse documento por um motivo: “Não comuniquei na época porque não queria aumentar todos os problemas que estávamos enfrentando com o governo”.
Ele alega que o governo do Estado rejeitou o recurso para não ter o carimbo do governo federal na obra, mas o que mais parece ter incomodado o ex-prefeito foi o convite que partiu do Palácio Anchieta. “Com dois dias de antecedência (da inauguração do aeroporto), solta um convite, falando que a obra é do Estado, numa grande indelicadeza e falta de respeito ao governo federal e à prefeitura”, disse, indignado.
“A obra é nossa”
Coube ao secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno, defender o governo e as obras do aeroporto, já que estão ligadas à sua pasta. Segundo Damasceno, mais de 70% dos recursos investidos no Aeroporto de Linhares são do governo do Estado, que decidiu deixar o termo de compromisso com o governo federal para, segundo o secretário, não atrasar ainda mais a obra.
“São decisões que o governo tem que tomar para melhor atender a população. O aeroporto era um projeto que vinha se arrastando há muitos anos, passando por várias mãos sem conseguir chegar a um denominador comum. O governo federal queria que nós fizéssemos a contratação de um projeto executivo para depois licitar a obra. O que isso iria acarretar? Pelo menos mais dois anos elaborando licitação, projeto e aprovando um novo projeto, e mais três anos com a obra, e isso com a pista pronta. Seriam mais cinco anos sem operar o aeroporto”, disse Damasceno.
Segundo ele, a decisão do governo então foi reduzir o tamanho do terminal. “Um terminal de 3 mil metros, como estava previsto, não refletia a realidade, muito grande para a aviação comercial regional, fora o custo operacional. Tomamos a decisão de fazer um projeto em cima do antigo terminal, que seria para 80 passageiros, mas já chegamos a 200, num projeto de 600 metros quadrados, que consegue operar com cinco pousos durante o dia. Qualquer avião que opera no terminal de Vitória, pode operar em Linhares. Fizemos a contratação, o projeto e hoje a obra está em pleno andamento. O terminal será entregue em dezembro e passa a operar em janeiro”.
Damasceno fez questão de enfatizar que a obra é do governo do Estado: “A obra é nossa”, afirmando que foram gastos R$ 50 milhões. “O aeroporto é uma realidade, colocamos mais de R$ 50 milhões, botamos equipamento que a prefeitura não teve como colocar e o aeroporto vai operar porque nós tomamos uma decisão acertada. Do contrário, só daqui a cinco anos que Linhares teria um aeroporto”.
Nas alfinetadas, Damasceno disse ainda que a Prefeitura gastou “zero” reais para colocar a obra de pé, o que é contestado por Guerino: “O terreno que foi cedido pela Prefeitura vale no mínimo R$ 100 milhões”. “Que terreno?”, questiona Damasceno, alegando que o aeroporto sempre foi no mesmo local e que foi o Estado quem fez as desapropriações. “Eles faltam com a verdade”, rebate Guerino, dando sinais que as desavenças com o governo do Estado estão só no começo.
PANOS QUENTES
Parte da bancada federal capixaba esteve presente na inauguração da nova pista do Aeroporto de Linhares para receber o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio. Durante o evento, o deputado federal Neucimar Fraga teria dito no discurso que não era hora de criar barreira entre governo federal e governo estadual.
SEM BOLA DIVIDIDA
Ao falar sobre a obra do aeroporto, o ministro Marcelo Sampaio, disse se tratar de um esforço conjunto da bancada e citou a senadora Rose de Freitas, por sua atuação na presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO), e o deputado federal Da Vitória, coordenador da bancada federal capixaba. Ao citá-los evitou a bola dividida, já que os dois disputam o mesmo posto: a vaga de Senado na chapa do governo.
Fonte: Folha Vitória
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